sábado, 12 de setembro de 2009

O que será que será?

By ~hotburrito2 on DeviantArt

Vê...
Olha pela varanda.
Daqui eles são pequenos,
Daqui eles parecem longe.
Parecem?
Mesmo a um palmo de mim,
Pra mim...
Eles ainda estariam longe.

Mas vê.
Olha...
Aquele casal.
Ele sorri,
Ela franze o cenho,
Mas força um sorriso.
Sorrisos distantes.
Mesmo quando a boca encosta os sorrisos estão distantes.
Eles estão distantes,
Tanto quanto eu, que olho, do alto, de longe, despercebida.
É como se fosse um quadro.
Eu olho de longe e não consigo encostar na casa nela pintada.
Mas de perto,
Mesmo que encoste eu não toco a casa.
Eu toco a tinta.
A casa ainda está longe.
Em outro plano.

Não é só o casal.
Aquela senhora está mais longe ainda.
Não tem o sorriso,
Não tem o cenho franzido,
Não tem expressão.
Ela está ali?
Ela está mais longe.
Nem a interpretação da pintura eu consigo fazer.
Me interessa mais.
Ela tem o sabor do neutro.
E eu não sei o que é isso.
Olha..
É belíssimo.
O olhar foca onde não consigo ver.
É um olhar morto.
E do morto eu não conheço.
E do morto ela também não deve conhecer.
Mas vê e responde com o não sentido de não ver.
Vê o “triangulo incompreensível” e de nada dele pode extrair.
Uma lágrima agora estragaria tudo.
Estragaria o neutro, o insosso daquele olhar perdido de quem não procura sentido porque o sentido não há.
Ela é bela.
Quanto mais distante, mais quero me aproximar.
Tenho medo.
Eu sei que mesmo ali ao lado dela não verei o que ela vê.
Sequer a verei de perto, ela já é a casa inalcançável...
O que tem na casa e a vista de lá nunca será minha.
E se eu chegar perto...
Eu serei o inferno dela.
Vou arrancar dela a beleza do neutro porque verá em mim o desespero dos sentimentos.
O cenho franzido, a lágrima, o sorriso.
A angústia me tira a possibilidade de ver o que não faz sentido e aceitá-lo como tal.

Como ela pode?

Eu vejo aquela criança.
Você vê?
Uma explosão ambulante do que é mutante.
Intenso.
Vê tudo, fantasia tudo, perde tudo.

Mas ela não.
Ela vê,
Ela aceita,
Ela perde,
Mas não sabe o que perdeu.
E simplesmente não importa.

Como ela pode?
O que ela vê?
Se ela sentisse meu olhar como reagiria?
Ela voltaria a angústia?

Espera...
Será que ela vê algo?
O olhar é morto.
Eu não sei.

Eu me distancio do real cada vez que tento me aproximar.

E se ela não vê?
E se todas as possibilidades me levam ao mais distante.

Eu, mais uma vez, estou a não aceitar o que não faz sentido.
E, pra mim, ela vê a morte.
Mas o inferno é o neutro. Até no sentir.


As vezes você fica triste.
E é só.
Aquele triste que não é suficiente para ser inspirador..
Nada de beleza melancólica.
Só a sólida e permanente tristeza...
Tristeza.
Pura, simples e sozinha.
Aquela que não se escreve sobre, só se tenta.
E aquela.
Sim, ela.
A companhia da sua solidão.
Presente, constante.
Não se fala, não se exige, só se amargura.
Aquela que não cresce, se instala.
Sem aviso. Só vazio.
Sem título. Sem figura.
Só fundo.
Peça integrante do nada.
Ela.