sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Path

by ~happybg On DeviantArt.

O caminho é aberto. Verde em volta. O que é verde? É verde. O caminho é aberto. Corro. Corro. Corro para aonde? Por que corro? Que caminho é esse? Corro. Como corro... Sei que não posso correr assim. Engraçado. Não me cansa. O joelho não dói. Corro sem correr. Corro sem sentir. Não sinto a dor, não o cansaço. Sinto o vento. Sinto a velocidade. É verde em volta. O que é verde? Não olho para os lados. Vejo caminho aberto, nada a frente e o verde de relance. Sinto curiosidade, mas não controlo o corpo. Não olho para os lados. Teria medo de olhar de qualquer maneira. É muita a velocidade... Se eu não olhar pra frente e não ver o que vem a frente. Se eu tropeçar... Se eu cair? Cair do que? Cair da onde? Por que o medo? Se eu não sinto dor, nem cansaço... Se o corpo que corre não é meu... Mas o que eu penso nesse corpo que não é meu? O que me move? O que é o caminho? O que é verde? Pra onde vou? Por que vou? Corro. Simplesmente. Corro no sem sentido. Corro no sem sentir. Corro no sentir o sem sentido. Corro, sem sentido o que é sentir. Paro. “Sentido!” Fim de linha. Fim de caminho. Fim de verde. Sinto. Corpo sentido. “Sentinela, para!” Abro os olhos mais do que os olhos podem ver. Uma barra me para. Seguro a barra, a barra me segura. E porque nos seguramos, eu sinto. O que é isso? É branco? É nu. É o sentido nu. Sentindo-me nua de sentido. Como eu cheguei até aqui? Como corri até aqui? Por que corri até aqui? O que é aqui? Onde estou? Qual o sentido? Sinto a barra que me para. Algo me para. Algo me limita. Posso pular a barra. Posso pular o limite. Pra onde? O que vem depois do limite. Olho e não significo. Os olhos não podem ver. Não é branco. É o sentido nu. Eu não enxergo. Olho perplexa para o que vem depois do limite. Corri, sem sentir, em direção a um sentido que não posso sentir. Não olho para trás. O que está atrás eu posso significar. Mas não quero. Eu quero isso. Eu quero o que vem depois. Eu quero pular o que me barra. Forçar a barra. O corpo ainda não é meu. Os meus olhos vêem o que eu não vejo. As minhas mãos sentem o que eu não sinto. Perplexa. Tanto corri para ficar imóvel. Solto a barra. Desço do limite. Olho pra trás. O caminho é livre. Em volta é verde. Volto andando pelo caminho que vim. O sentido é uma ilusão. E ele mata se você forçar a barra. Risos. Volto andando, olho as árvores. Olho o chão. Olho o céu. Olho o chão. Sinto o chão. Sinto o cheiro úmido. Sinto a vida. Toco as folhas das árvores. Toco o chão. Toco a vida. Ando devagar. Rio por um caminho que eu não sei. Como rio corre pra um caminho que não sabe. Eu, rindo, para desaguar no começo do que não me faz sentido. O sentido é uma ilusão. Não vale a pena morrer por ele. Ando, pela vida, pra desaguar aonde nasci. No nada. Escorro. Evaporo, mas condenso e de novo chovo. Escorro. Toco a vida. Sigo o fluxo. O que é o caminho? O que me move? Pra onde vou? Por que vou? Pelo menos agora, vou devagar. Deixa eu sentir por onde eu me escorro. Deixa eu escorrer por onde me sinto. Rindo. Indo. Lindo. O caminho era lindo e eu não vi pela pressa e pelo medo. Olha o verde. Olha o ar. Rindo, escorro pela vida. Tocando cada parte que eu posso tocar. Deixa pra lá o que me barra. Deixa pra lá o evaporar. Olha os sais e minerais.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

ps:


Não, você não entenderia não é mesmo? Não entenderia o rombo aveludado que fez no meu peito com apenas uma palavra. Não tem mesmo muito o que entender... Acho engraçado como você consegue. Como consegue machucar com tanta leveza. Como consegue sentar no seu trono de dor e encantar a todos. O rombo lateja. Mais uma vez me vejo obrigada a agir de médico e suturar a mim mesma. Juntar os pedaços. Não, você não entenderia minha preocupação. Minha vontade de agradar, minha vontade de você. Não entenderia meu querer te acompanhar a todo o instante ou minha razão de te querer bem. Você não me compreende e talvez nunca virá a compreender. Não me compreende porque não sabe o que é o amor. Não, você não ama, o que você tem não é amor, é sede. E na sua sede você me arrasta. Eu me arrasto. Levo-me na sua direção sempre na tentativa de ser a chuva para sua seca. Na tentativa de ser suficientemente molhada pra afagar a sua garganta ríspida. Mas você não entende o que é querer ser o apaziguamento da dor do outro. Não entende o que é tentar a todo custo ser seu tudo. Ser seu algo. Ser seu. Só queria te dar meus braços, minhas pernas, meu seio, meu pulmão. Queria te dar meus órgãos dilacerados, juntar-me aos seus também espalhados e formar um só ser. E assim me esvaziar de mim pra dar tudo a você. Quem sabe tudo de mim te preencheria de algo? Quem sabe tudo de mim te desse alento, aconchego, tato. Quem sabe cuidaria de ti como você faz parecer que precisa ser cuidado. E o que fica é oco. O que marca é gesto. Doar-se tanto até não sobrar. Abraçar tanto até sufocar. Não teria problema se você morresse no meu abraço porque eu morreria também. É... você não sabe o que é o amor...


Frankenstein