sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O animal, a criança e o nada.

Cover de 'Elephant' - The White Stripes


Há uma semana...

Eu durmo abraçada a um elefante.



If I was young, I'd flee this town

I'd bury my dreams underground.

As did I, we drink to die, we drink tonight.

Far from home, elephant gun.

Let's take them down one by one”.



Um elefante. Uma cama. Uma criança. Mas o que é isso afinal? É porque a cama é grande. É porque a criança é pequena. O elefante é pra ocupar espaço, ocupar o grande espaço que sobra na cama da criança. Ocupa o espaço e pesa. Pesa como elefante na cama da criança. O elefante e sua tromba. A criança e sua falta.

Aí, eu durmo abraçada a um elefante de pelúcia, que na representação da realidade é do tamanho de sapato. Um sapato que me esmaga. A cama é muito grande. Espero na cama.

Volta...

Criança que abraça a pelúcia com medo do escuro. O que mais dá medo é a aparência do nada, que em cada minuto aparenta surgir algo e simplesmente ser. Mas é nada... É escuro e nada surge. Nada vem pra matar a criança. E a criança abraça a pelúcia e espera. Espera na cama.

Volta...

Travesseiro no meio da cama. Corpo imóvel na diagonal. Cheiro de incenso. Luz colorida. O animal, seu peso e sua tromba. E eu... onde? No corpo? No animal? No cheiro? Ou na criança? Não, eu no medo.

O medo termina na luz, o medo termina na presença de outro Eu, o medo termina no abandono do animal. Até vir a luz, até vir o Eu, até vir a coragem... são horas. São dias, são meses, são vidas. Nada vem pra matar a criança. Enquanto a tutela não volta pra casa eu tenho medo. Quando você volta pra casa? Tira o sapato que me esmaga e deita. Eu ponho o animal de lado.

Vem pra casa. Volta...

A criança sabe que ninguém volta, o animal sabe que ninguém volta, o sapato aperta, a luz é colorida, o cheiro é de incenso, a cama é grande, a tromba preenche a falta, nada traz a morte, o tato na pelúcia, o corpo imóvel e eu no medo. Sua casa não é aqui.


Há uma semana...

Eu durmo...

Abraçada ao animal que me preenche no nada que me mata.