domingo, 28 de novembro de 2010

11 de Dezembro

Todos agem como se só houvesse dois lados. O Bem e o Mal. O yin e o yang esculpidos cientificamente como leis naturais. Extirpa-se o mal, consagra-se o bem e fim de papo. Quase como aqueles personagens rasos de novela Global. Engraçado isso, né? Global... É... formador de opinião, instituidor de globais. Costura-se uma fantasia de Mal, quase Mao de tão terrível, e se põem a venda a preço de banana. Obviamente compra-se sem nem piscar: “Com um desconto desses, não perderia por nada!”. É... ninguém quer a Ruth, todos querem a Raquel, então porque não liquidar a primeira como a onda que desfaz as estatuais de areia, não é mesmo? Matar a essência maligna irreparável. Cortar pela raiz. Ah meu caro, Mao era tão mau que se alguém tivesse criado uma maquina do tempo provavelmente voltaria e mataria sua mãe. Aposto que se o governo alemão atual colocasse as mãos nessa mesma maquina mandaria alguém pra incentivar aquele aborto em potencial de Hitler que todos tanto falam. Ah... senhor espectador, vai me dizer que você não mandaria? HÁ! Conta outra! Ainda mais sendo um fulano de tal que vai puxar o gatilho e não você... Pois é... depois volta pra casa, da comida pro gato, abraça os filhos e vai assistir Faustão. Ah... mas que sonho ser um homem de bem como você! Pena que tenho alergia. É... homem de bem me da coceira. Vejo todos aqueles bandidos cruéis, MAUS, sendo massacrados por homens com caveiras do BEM ostentadas em seus coletes e tenho coceira. Não sei bem porque, afinal são caveiras-heróis que quebram em onda sobre as estatuas faveladas de areia e as transformam em macinha pra modelar. Talvez a verdade seja que eu seja má. Só sendo muito Mao pra olhar os salvadores, os libertadores e ter urticária. Tudo tão bonito, sincronizado, tão blindado. Todo mundo batendo palma em pé diante de um grande espetáculo e minhas mãos ocupadas com esse trabalho sujo de se esfregar. Tsc, tsc... Mas a verdade é que os bandidos me fazem espirrar. Aí acabo ficando presa nessa postura estranha no meio do espetáculo, corcunda, coçando, espirrando num buraco cinza rotatório entre o branco e o preto. Aposto que quando inventarem a tal maquina do tempo ninguém aparece por aqui: esse buraco da trabalho. Ah não, se o tal homem de bem descobre a maquina o Schwarzenegger aparece na hora metendo pau de fuzil nas fuça dos romano e coloca Jesus na garupa. Como a história seria diferente! Fico pensando se Maquiavel não teria muito orgulho de tudo isso. Olharia pra globo no domingo e pensaria com lágrimas bondosas nos olhos: “foi assim que eu imaginei!”. É... acho que ele não planejaria melhor: Uma viva para o progresso, para a limpeza e para a macinha de modelar!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Um passo no novo

O Artista
Um dia, despertou-lhe na alma o desejo de esculpir uma estátua do Prazer que dura um instante. E partiu pelo mundo a procura do bronze, porque ele só podia trabalhar com bronze. Mas todo bronze existente no mundo havia desaparecido, e em nenhuma parte o metal podia ser encontrado, a não ser na estátua da Dor que é permanente.
E fora ele que com suas próprias mãos, fundira essa estátua, erigindo-a no túmulo de alguém a quem muito amara na vida. E na tumba da morta, que tanto amara, colocou a própria criação, como símbolo do amor masculino, que é imortal, e a dor humana, que dura a vida inteira.
E em todo mundo não havia bronze, a não ser o dessa estátua.
Ele, então retirou a estátua que moldará, pô-la num grande forno, deixando-a derreter-se.
E com o bronze da estátua da Dor que é permanente, fundiu a do Prazer que dura um instante. Oscar Wilde

Comentário sobre "O Artista":
Um dia despertou-lhe na alma o desejo.
O desejo é sempre de súbito que desperta, mas ao mesmo tempo martela incessante, desejo "martelante" que não se deixa ficar em baixo do tapete. Desejo de esculpir um prazer que dura um instante, desejo que não pode ser isso ou aquilo, que não se engana, desejo que não se confunde com gozo, desejo dilacerante que exige ação específica.
Desejo de esculpir nem isso, nem aquilo, mas estátua de bronze. Desejo que revela como às vezes gastamos todas as nossas energias com caminhos já facilitados. Mas que instituem, "estituem" a dor que é permanente, como cachorro que precisa correr atrás do rabo, namoramos sempre o mesmo tipo de pessoa, comemos de mais, de menos, usamos as mesmas drogas que nos deixam correr sem fim no círculo da repetição. Nosso fruto: a dor que é permanente.
Mas, o desejo não se deixa calar e gota d'água vai cavando incessante um novo caminho. Entretanto, entre a palavra, o silêncio e a ação é preciso um ato de força, de romper as resistências, um ato de coragem, um passo no nada.... ou seria um passo no novo?
Para que o desejo irrompa é preciso um novo leito para que o rio corra, é preciso deixar derreter a dor que é permanente. E é só do passo ético de se haver com sua nascente, o seu desejo, é que pode advir uma prazer, mesmo que dure um instante, acima de tudo é que pode advir um sujeito que busca o prazer e não apenas tenta evitar o desprazer....

(desculpe-me erros de português...desejo de errar...)