Em algum lugar ela nasceu... e como toda, desorientada, não sabia nem mesmo nada. Cresceu em meio de muitos que lhe ensinaram aquilo que se deveria aprender. Esses muitos eram iguais, seus iguais. E com o tempo seus caminhos lhe foram sendo mostrados: contentes e práticos.
Ensinaram-lhe seus símbolos e seus hinos, que em pouco tempo tornaram-se também seus. E o mais importante: praticamente assim que abriu os olhos, já lhe foi passado o grande sermão do compromisso. Das prioridades. Dos limites.
Tudo era restrição. Tudo começava com letra maiúscula e terminava em ponto final. E é assim que tudo é. A terra gira em torno do sol.
-- Mas e o universo até onde vai?
A terra gira em torno do sol.
Aprendido, seguiu seu caminho. Exato, aquele seu que era também dele e do outro antes e depois dele. Tudo parecia muito simples, nem mesmo complicava quando se queria divertir.
-- Claro! Diversão pode. Mas depois do compromisso, com seus devidos pingos nos “is”. Com sua ordem, seu objetivo, suas agradáveis regras.
Simples, contente e rápido. O imperativo do dever cego que marcha. Primeiro a perna direita, depois a esquerda, depois a direita de novo. E tudo isso em uníssono ritmo cantante, sorriso marcante e ponto final.
E então ela, já crescida, descobre que existe algo em si que diferencia. Que se estranha. Algo que deveria ter acento, mas que não tinha.
Resolveu mostrar. Afinal, porque não mostrar o diferente? E assim, se surpreendeu por ninguém entender. Era tão bonito, se podia tanto... E era exatamente nisso que era repreendida: naquilo que se podia.
Assustou-se por perceber que depois de sua descoberta não poderia voltar mais a sentença fechada e correta de todos os dias.
Descoberto, seguiu seu caminho. Exato, aquele seu e de mais ninguém.
E por mais que os agora outros, tivessem a chamado de mil nomes, para assim deixar claro a espécie que era, mas que não pertencia; essa correu da limitação da denominação. Da prisão daquilo que se tem nome.
Porém, não conseguia evitar gostar quando a chamavam, não sem escárnio, “daquela que tem asas”.
e sorria ao pensar que todos também tinham