terça-feira, 30 de março de 2010

Como se já me conhecesse...

by ~dibutade on DeviantArt

“Quem é esse homem tão lindo, andando, sorrindo, que vem na minha direção como se já me conhecesse? Mas ele não me conhece, eu não o conheço. No entanto é alguém que já vi, quando eu pensava que queria ver alguém, que eu não conhecesse, que fosse tão lindo quanto ele, que vem andando na minha direção, me olhando, andando e sorrindo como se já me conhecesse.” (A.J)

Quem é esse homem?
Por que ele sorri?
Por que eu sorrio em retorno como se já o conhecesse?
Quem é ele?
Tenho a impressão de já ter dormido em seus braços.
E que neles, oscilava entre um felicidade reconfortante de ser desejado e a extrema solidão do abandono iminente.
Mas não. Ele está aqui na minha frente, andando e sorrindo.
Não conheço seus braços, mas é como se os conhecesse.
Será ele um jovem poeta que sorri em uma experiencia literária?
Afinal jovens poetas procuram inspirações em pequenos ou grandes jogos de paixão.
Não. Não é um sorriso curioso.
É uma certeza desenhada a traços fortes, tal como a minha.
É como se eu já conhecesse sua certeza.
Tenho a sensação de que o ver me foi um hábito,
entre vinhos e filmes procurou meus beijos,
e que neles eu oscilava entre um felicidade reconfortante de ser desejado e a extrema solidão do abandono iminente,
junto ao fim do vinho.
Não. Não conheço seus beijos,
mas é como se já o conhecesse.
Quem é esse homem tão lindo?
Ouço sua voz calma ao me explicar mil solos de guitarra sorrindo.
Não. Não conheço esse sorriso.
O que conheço é um sorriso de gratidão,
um sorriso que entendia que o importante não era me conhecer e sim conhecer a si,
no reflexo dos meu comentários.
Merda.
Quem é ele?
Lembro de um abraço vazio,
apertado,
desejante,
mas nele...
eu tinha um sorriso vazio.
Será que esse homem é aquele que me amava?
Aquele que se apoiava em meu peito e ria como criança,
sem dizer uma palavra?
Não.
Esse sorriso eu também conheço.
É de quem não precisa me conhecer,
pois me conhece inventada da cabeça aos pés.
Amava o que fez de mim e sorria,
assim me conhecia.
Eu sei quem ele é.
Eu o conheço.
Ele é aquele,
cujo sorriso me traz o vazio,
me traz um futuro vazio.
Agora que eu sei eu lhe rio de volta pela felicidade de me jogar ao que lhe é mais lindo.
Eu amo o vazio de nunca conhecê-lo.
Eu abro os olhos,
e ele não está lá.

sábado, 27 de março de 2010

Visita


Em algum momento você cansa.
Cansa de estar cansado.
De fazer as mesmas coisas insanamente iguais.
Insanas porque te enlouquecem em sua repetição.
No seu ritmo constante e pobre.
E quando você finalmente acha que fez algo certo,
mudou de forma, recriou o espelho...
De repente em sonho um fantasma bate a porta.
Ele não quer saber do seu cansaço, só do próprio propósito macabro.
Ele quer aterrorizá-lo com aquilo que foi velado e que não era pra voltar.
Ele leva consigo a dor dos não-vivos em presença.
Obriga o sentimento resignificado a bater no peito teoricamente cicatrizado.
Pensei que enfim iria sorrir, me desnudar do peso constante da eterna sobrecarga.
Mas ela parece não cansar. Sou eu que canso. Ela só aparece.
Aparece carregada pelo fantasma de mim mesma,
que não se livra do assunto inacabado,
que continua no mesmo piso rachado esperando pelo reparo do mutilado.
Canso.
Deito.
Pra que? Sempre volta. A mesma patética história sempre volta.
Ela aponta e ri.
Aquele riso assustador que acompanha a certeza da sua capacidade de afetação.
Humilha. Machuca. Faz companhia.
Sussurra gélida ao meu ouvido, mas não diz nada.
Faz tremer só por aludir. Só por comparecer.
Espírito aprisionado no porão de minha alma maculada, sai pra fazer visita.
Vem dar um alô, vem me prestigiar com sua imaterialidade maldita.
Vizinho de mim vem pedir uma xícara do resto de eu que sobrou em mim.
Fecho os olhos, mas ele ainda está lá. Ele está sempre lá.
Canso.
Deito.
Pra que?