quarta-feira, 17 de junho de 2009

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"Não era amor. Não, não era amor. Era... Era uma sorte, uma travessura, uma sacanagem, eram dois celulares desligados. Não, não era amor. Não. Era inverno, era sem medo. Não... Não era amor. Era melhor."

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"O fundamental a gente nunca fala."

Talvez eu nunca irei falar. Talvez...

by ~
jstyle23 on DeviantArt

terça-feira, 9 de junho de 2009

Humano desabafo



Não faço o que faço pra ter algo em troca. Apenas agrado pela beleza de fazer bem para quem sinceramente amo. Mas depois de tanto tempo percebendo que benevolência requer mais esforço e sofrimento do que se espera, então começo a questionar se ao final, eu realmente não gostaria de uma prova de agradecimento.
Assumir isso é revoltante. Mostra que sou bem menos do que sempre fiz de tudo para ser. Mostra que aquele modelo perfeito, sem risco de reclamar em viver em função das pessoas, era quebradiço. Aquela minha vontade de poder ser admirável, alguém que se sente feliz sem palavras e gestos de reciprocidade, a moldura perfeita do altruísmo, derreteu ao se deparar com o sol amargo da falta.
Olhei-me no espelho e o que vi não foi a obra prima que incansavelmente tentava entalhar. O que vi foi humano: feio e imperfeito. Foi a prova de que falhei. Tentei de tudo para atestar que era possível. Que alguém poderia ser tão agudamente admirável. No entanto, decepcionei.
Decepção.
Carrasco de mim. Palavra maldita que me traz mais melancolia e amargura que outra muito mais temível: morte. Esta que representa o fim daquilo que sempre acreditei.
Morte de mim.
De um eu que se foi no momento que assumiu sua fraqueza. No momento que sentiu que sofria e não queria mais sofrer. Quando notou que quanto mais perto da estátua milimetricamente projetada de perfeição altruística chegava, mais infeliz se tornava. Quanto mais amava e demonstrava, menos recebia.
Notei que tenho desejos. Abri o dicionário e descobri a palavra querer. Ela se apossou de mim como veneno. Subiu a minha cabeça e escureceu a tudo, clareando somente a idéia de que quero.
Quero de volta.
Não como um preço a ser pago pelos meus esforços a eles. Mas como o símbolo de que esses esforços não foram em vão. O símbolo de que parte do amor que tenho, um dia pode ser me dado também de volta.
Percebi que sou pouco. Risível. Pequena demais para não almejar atenção, para não querer presentes fúteis de amor, ou provas ínfimas de que sou alguém verdadeiramente amada.
Não entendo mais o que as pessoas querem dizer em me chamar de especial. Quando seus gestos esquecem de mim. Não, não está subentendido. Subentendido não é mais suficiente. Gestos se tornaram de repente tão desejados quanto água para quem tem sede. Estou sedenta de retribuição palpável, e nada me faz sentir pior e menor que essa admissão. O que escrevo é como sentença inescapável.
Não se trata, no entanto, de dar para receber. Mesquinharia. Não é cobrar com juros justos. O que é: é necessidade de reconhecimento retribuído.
Divago.
Pensando que as pessoas têm a tendência de dar mais atenção e símbolos de apreço àqueles que lhes dão pouco disso. Costumam valorizar os misteriosos desafios muitas vezes não tão especiais. E assim, deixam de lado e despendem menos esforços àqueles já garantidos. Àqueles que esses têm certeza de que lhes são caros e lhes dão de tudo.
E no fundo, tenho medo. Medo de que a retribuição não venha pelo motivo anterior, mas pelo simples fato de não ser tão merecedora ou amada como sei que amo. Terror de que a verdade seja mais dura que as especulações; seja mais árdua em aceitação.
E por não receber, duvido. Questiono, sem querer, se aqueles para quem me entrego algum dia me quiseram bem.
Não me sinto especial.
Não me sinto parte.
Sinto carência patética daquela que quer ser importante e não enganada por afagos compensatórios de mérito.
Quero ter.
Sentir.
E não ouvir a palavra distante e dúbia. Palavras esvaecem, perecem com facilidade quando pronunciadas sem preocupação.
Quero a beleza palpável dos gestos! Quero sentir o cheiro, tocar e apertar com força a textura. Quero o gosto e não o som inalcançável da palavra que, quando dita, é feita com descaso.

sábado, 6 de junho de 2009

O Sonho de um Homem Ridículo

by ~Photography-B on DeviantArt


“A princípio fazia-me sofrer muito a idéia de parecer ridículo. Não o parecê-lo, mas o sê-lo. Eu sempre fui ridículo, e eu já o sabia talvez desde que nasci. Talvez já aos sete anos eu me apercebesse perfeitamente de que era ridículo. Depois fui para a escola, e a seguir para a Universidade, mas... Quanto mais aprendia, mais obrigado me via a reconhecer a minha condição de criatura ridícula. De maneira que todos os meus estudos universitários não tinham outro objetivo senão o demonstrarem-me e explicarem-me a mim próprio, nas minhas meditações, que eu era um ser ridículo. E, na vida, acontecia-me o mesmo com a ciência. Todo o ano aumentava e se fortalecia em mim o conhecimento da minha condição ridícula, em todos os sentidos. Toda a gente se ria de mim. Mas ninguém sabia, nem suspeitava sequer, que, se existia no mundo um homem que soubesse melhor do que todos eles como eu era ridículo, esse homem era eu próprio. E era precisamente isso o que mais me enraivecia: que não soubessem. Mas disso tinha eu a culpa. Fui sempre tão orgulhoso que por nada desse mundo o teria confessado a ninguém. E esse orgulho ia crescendo também em mim com os anos, e se eu me tivesse permitido confessar a alguém, fosse a quem fosse, espontaneamente, que era um homem ridículo, teria imediatamente metido um tiro na cabeça, na tarde do mesmo dia. Oh, quanto me fez sofrer, na minha mocidade, o medo de não poder talvez conter-me e de dizê-lo de repente, eu próprio, aos meus companheiros! Mas, com o andar do tempo, quando me tornei um rapazote e, apesar de continuar reconhecendo cada vez melhor todos os anos essa terrível condição minha, fui-me sentindo cada vez mais tranqüilo... Não sei por quê... Precisamente por alguma razão que ainda hoje ignoro. Talvez por, nessa altura, se ter introduzido na minha alma o receio perante determinado conhecimento que humanamente era mais elevado que o meu eu... E que foi a convicção adquirida de que tudo neste mundo é, afinal, uno.”


O Sonho de um Homem Ridículo - Fiódor Dostoievski
http://www.4shared.com/file/110325285/7f89cfd8/7331832-Dostoievski-O-Sonho-de-Um-Homem-Ridiculo.html


Eu não queria escrever nada. Mas acabei querendo.

...

Ás vezes, eu penso que se eu pegasse trechos de cada livro do Dostoievski poderia ser possível explicar meu eu. Mesmo que não faça sentido. Uma frase. Um parágrafo. Eu vejo o meu ser refletido nas palavras do outro.

Engraçado... Eu achava que se alguém pudesse me definir de maneira cristalizada, entraria em um desespero tão profundo que não valeria mais a pena eu ser. Tanto que eu sempre preferi me defender com o argumento que eu estou, não sou.

Mas quando ele fala: “Eu sou um homem mal. Eu sou um homem ridículo. Eu sou um homem covarde.” Eu sinto uma identificação tão forte, que é como se eu falasse. Eu viro o personagem. Eu sinto a vergonha e a dor da auto-afirmação, com um misto de satisfação e orgulho por sê-lo.

Talvez não seja tão desesperador ser... Isso me lembra o “Homem do Subsolo”, ao mencionar como ele seria mais feliz se ele pudesse se afirmar como algo, mesmo que seja preguiçoso. Ele levaria esse titulo com o orgulho de SER. E essa afirmação o cegaria, tirando o desespero de pensar sobre não ser.

Eu estou confusa. Deve dar pra perceber. Vai ver... Eu SOU confusa. Vai ver... eu SOU um homem ridículo, no maior estilo dostoieviskiano de existência. Onde o que predomina é a dança caleidoscópica de sentimentos podres. De sentimentos merdas... Que destroem... Que matam.... Que nos transformam na loucura sobre a razão pura. Tudo que não há de ‘belo e sublime’. Toda podridão que só se revela quando tudo arde. Quando precisamos que arda. Quando é necessária a dor...

“... a dor é beleza, pois só a dor tem sentido.” (F.D)


Desabafo de merda. Não SOU prolixa, nem poética.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Verdadeiramente Imoral (C.L)

by ~Cl3tuS on DeviantArt

Eu quero matar a alma,
Eu quero matar o Eu.
Nadificar.
"Imanescer".
Não-ser.
Eu quero que o emocional seja apenas: cérebro-emocional.
Que a dor de 'amor',
a dor do desejo,
se alivie por doses de aspirina e paracetamol.
Que a dor de alma,
se alivie em fortes doses de morfina.
O problema está no cerébro.
O problema está no corpo.
E o cerébro-emocinal está confuso.
A discussão sobre o ser e o nada não me basta.
A discussão sobre o ser e o nada banhada em malte de cevada, lúpulo, água e etanol me não basta.
O Ser não me basta,
O Nada não me basta.
Não ME basta?
Me?
Eu?
Eu quero matar o Eu,
quero matar a alma.

Talvez assim...
O 'it' que sobrar de mim seja Deus...
Mesmo que Eu morra.



O perfeccionismo agudo batia todo começo de manhã na janela imatura em forma de menina. Ele entrava como um raio rotineiro e se emoldurava sob a cama como a crença cristalizada; a regra inquestionável de algo divino. Parecia que então, um ideal utópico regia sua vida, da mesma maneira que o sol rege tudo.

E o tudo não questiona o poder irrefutável de seu sol, assim como ela nunca realmente questionou aquilo que sempre acreditou ser parte constituinte de si. A bússola domada apontava para o norte, onde esta se encontrava com o disfarce do contentamento. Alguém que não sabe onde está, mas que tem a segurança que seguiu para onde a seta direcionadora do quadro emoldurado sob a cama apontava.

Até que a chuva de repente pareceu uma alternativa. A tempestade surgiu para trazer consigo a confusão que geralmente se propõe a trazer. Mas a confusão era inusitadamente confortadora. Ela trazia o gosto exótico da quebra de algo antes inimaginável. Apareceu como a consciência alarmante, como a liberdade antes nem mesmo considerada. Afinal, como se libertar de algo que não sabemos que nos aprisiona?

Porém, nada era mais prazeroso do que ver a tempestade e a confusão como racionalidade repentina. Elas trouxeram o vislumbre de luz para a cegueira inconcebida da menina. O sacrifício de cada dia, no fim, era mantido pelo carrasco de seu próprio espelho. Cada ação forçosamente dolorosa era imposta por regras vindas de um lugar irreal, vindas de um quadro mantido por ninguém menos que si mesma.

A percepção que veio com a chuva lhe trouxe nada mais do que a concepção de que tudo lhe era possível. Trouxe o alivio de alguém que se liberta de correntes invisíveis e percebe que existe muito mais para se ver do que sua limitada cela lhe permitia. Abrir-se para as possibilidades puras, para a vida sem molduras, além das que lhe são verdadeiras e não impostas.

De repente voar, tocar o sol, sobrepô-lo, não mais era impossível.