quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O passatempo da sua viagem.

Um dia alguém me disse:

“Você não precisa mendigar pra ele gostar de você.”

Eu ri.
Achei que era bobeira.
Mas de uns tempos pra cá eu vi...

Senhoras e senhores passageiros da vida,
Desculpe interromper o silêncio da sua viagem,
Mas eu vim lhes trazer essa novidade.
Prestem bem atenção.
Eu podia estar matando,
Eu podia estar roubando,
Mas eu só estou aqui pedindo um olhar,
Um carinho,
Um abraço,
Pra eu poder alimentar a criancinha que está... Aqui na sua frente mesmo,
Pedindo.

Eu mendigo por afeto.
Faço malabares,
Peço insistentemente,
Peço com olhar mendigo de quem tem fome...
Por um pouco,
Muito pouco afeto.

Qualquer trocado basta.

E do mesmo jeito que quem mendiga quase nunca ganha.
Eu não ganho.
Fico de pedinte que é o que eu sou,
Que é o que incomoda,
Que é o que muitas vezes assusta.
Porque sempre desconfiamos da verdadeira razão do pedinte.
No meu caso é com razão.
Com isso eu alimento o vício.
Maldito vício de paixão.
Maldito vício de intensidade.

Qualquer trocado de afeto alimenta em mim,
Muitas vezes,
A sentimento louco de entrega.
Eu me jogo ao que não sei.
E me dou...
Mas quem quer o mendigo?
Quem quer aquele que implora?
Sem coisas loucas ditas belas?
Orgulho, honra, dignidade.

Ninguém quer o feio.
Ninguém quer a falta de estética.


“Por enquanto o primeiro prazer tímido que estou tendo é o de constatar que perdi o medo do feio. E essa perda é de tal bondade. É uma doçura.”
[C.L - A paixão segundo G.H]

Doçura é uma palavra engraçada.
Rrsrsrsr.

sábado, 22 de agosto de 2009

.

by *thicktheo on DeviantArt

Meu eu se comprime e cabe num cubo de 4cm.
Acredite.
Envergonhado e com medo o Eu só precisa de 4cm.
E dói. De tanto que se comprime.
Dói o Eu querer ser tão pouco.
Contudo,
ele é.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Achei...

by `GeorgeHarrison on DeviantArt

Uma vez já achei que eu era cor.

Era roxo,
vibrante,
porém fosco e integro.

Uma outra achei que era som.
Som musicalizado ainda por cima.

Onde já se viu tanta ousadia?

Era feita por um piano,
suave, de leve,
calmo.

Já achei que era luz,

Era fraca,
azulada,

Diminuia devagar...
E chegando ao quase não existir...

Ascendia e acendia nuns tons alaranjados de quem precisa se igualar ao Sol.
Eu queria ser sol.

Mas nunca fui.
Sempre achei que fui lua.
É...
acho que já fui lua.

Então...
Uma vez eu achei que era lua.

Eu me escondia,
mas aparecia curiosa como quem precisa saber o que vai acontecer no próximo capítulo.

Uma vez já achei que era criança,

E acabei sendo um sorriso mais livre.
Eu já achei que era um sorriso.
Do sorriso,
facilmente fui beijo.

Do beijo,
fatalmente fui lágrima.

Uma vez eu achei que era lágrima.

E acabei sendo uma criança mais livre.
Uma vez eu achei que era jovem

E que sendo jovem estava longe da morte.
Acho que uma vez eu fui imortal.

Achei que era vida.

Da vida eu fui ao inseto,
do inseto eu fui à flor.

Da flor eu fui ao pólen,
do pólen eu fui ao vento.

Eu já achei que era vento.

E que vinha do mar.
De dia eu vinha do mar,
ver a terra.

Dá saudades, sabe?
De noite eu caminhava pro mar.
Pra solidão.
Dá mais saudades ainda, sabia?
Eu já achei que era o quase vazio,
Só não era vazio porque achava que faltava algo.
E achar que falta já preenche espaço.
Nunca achei que era completa.
Não consigo nem pensar em achar que posso ser completa.
Loucura isso.
Hmmm....
Já achei que era louca.
Já achei que era desespero.
Mas quando percebi que era desespero porque queria ser normal...
Eu achei que queria ser louca.
Me permeti.
E eu achei que era louca.

Aí eu acabei sendo um sorriso mais livre.
Eu achei que era sorriso.
Do sorriso,
facilmente virei beijo.

Do beijo,
fatalmente virei lágrima.

Na lágrima, eu voltei ao quase vazio.
Eu achei que era velha e que a morte estava logo ali.

Eu achei que era a morte.

E que a morte de mim era sozinha.
Eu não tinha mais o tom,
Nem o piano,
Nem a cor,
Nem as estrelas,
Nem a terra,
Nem as asas,

Nem o beijo.
Eu era gente.
E sendo gente eu senti que eu não tinha nada.

Eu senti que eu era a minha tristeza mais aprisionada vindo à tona com o ódio
De quem por muito é esquecida,
De quem por muitas vezes foi trocada.
E sendo gente eu vi que eu não queria ser gente desde o inicio.
E eu não fui.
Eu não fui gente.
Eu fui sonho.