Um dia alguém me disse:
“Você não precisa mendigar pra ele gostar de você.”
Eu ri.
Achei que era bobeira.
Mas de uns tempos pra cá eu vi...
Senhoras e senhores passageiros da vida,
Desculpe interromper o silêncio da sua viagem,
Mas eu vim lhes trazer essa novidade.
Prestem bem atenção.
Eu podia estar matando,
Eu podia estar roubando,
Mas eu só estou aqui pedindo um olhar,
Um carinho,
Um abraço,
Pra eu poder alimentar a criancinha que está... Aqui na sua frente mesmo,
Pedindo.
Eu mendigo por afeto.
Faço malabares,
Peço insistentemente,
Peço com olhar mendigo de quem tem fome...
Por um pouco,
Muito pouco afeto.
Qualquer trocado basta.
E do mesmo jeito que quem mendiga quase nunca ganha.
Eu não ganho.
Fico de pedinte que é o que eu sou,
Que é o que incomoda,
Que é o que muitas vezes assusta.
Porque sempre desconfiamos da verdadeira razão do pedinte.
No meu caso é com razão.
Com isso eu alimento o vício.
Maldito vício de paixão.
Maldito vício de intensidade.
Qualquer trocado de afeto alimenta em mim,
Muitas vezes,
A sentimento louco de entrega.
Eu me jogo ao que não sei.
E me dou...
Mas quem quer o mendigo?
Quem quer aquele que implora?
Sem coisas loucas ditas belas?
Orgulho, honra, dignidade.
Ninguém quer o feio.
Ninguém quer a falta de estética.
“Por enquanto o primeiro prazer tímido que estou tendo é o de constatar que perdi o medo do feio. E essa perda é de tal bondade. É uma doçura.”
[C.L - A paixão segundo G.H]
Doçura é uma palavra engraçada.
Rrsrsrsr.
No dia dos mortos
Há 11 anos