terça-feira, 2 de junho de 2009


O perfeccionismo agudo batia todo começo de manhã na janela imatura em forma de menina. Ele entrava como um raio rotineiro e se emoldurava sob a cama como a crença cristalizada; a regra inquestionável de algo divino. Parecia que então, um ideal utópico regia sua vida, da mesma maneira que o sol rege tudo.

E o tudo não questiona o poder irrefutável de seu sol, assim como ela nunca realmente questionou aquilo que sempre acreditou ser parte constituinte de si. A bússola domada apontava para o norte, onde esta se encontrava com o disfarce do contentamento. Alguém que não sabe onde está, mas que tem a segurança que seguiu para onde a seta direcionadora do quadro emoldurado sob a cama apontava.

Até que a chuva de repente pareceu uma alternativa. A tempestade surgiu para trazer consigo a confusão que geralmente se propõe a trazer. Mas a confusão era inusitadamente confortadora. Ela trazia o gosto exótico da quebra de algo antes inimaginável. Apareceu como a consciência alarmante, como a liberdade antes nem mesmo considerada. Afinal, como se libertar de algo que não sabemos que nos aprisiona?

Porém, nada era mais prazeroso do que ver a tempestade e a confusão como racionalidade repentina. Elas trouxeram o vislumbre de luz para a cegueira inconcebida da menina. O sacrifício de cada dia, no fim, era mantido pelo carrasco de seu próprio espelho. Cada ação forçosamente dolorosa era imposta por regras vindas de um lugar irreal, vindas de um quadro mantido por ninguém menos que si mesma.

A percepção que veio com a chuva lhe trouxe nada mais do que a concepção de que tudo lhe era possível. Trouxe o alivio de alguém que se liberta de correntes invisíveis e percebe que existe muito mais para se ver do que sua limitada cela lhe permitia. Abrir-se para as possibilidades puras, para a vida sem molduras, além das que lhe são verdadeiras e não impostas.

De repente voar, tocar o sol, sobrepô-lo, não mais era impossível.

Um comentário:

Aline Gomes disse...

:´] Será comentado pessoalmente. Me cobre, bixa!