quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

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" No chão estava o pinto morto. Ofélia! Chamei por impulso a menina fugida.

A uma distância infinita eu via o chão. Ofélia, inutilmente tentei eu atingir o coração da menina calada. Oh! Não se assuste muito, às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro. Eu estava agora cansada, sentei-me no banco da cozinha.

Sentada como se todos esses anos eu tivesse com paciência esperado na cozinha, Como na páscoa nos é prometido, em dezembro ele volta. Ofélia é que não voltou: Cresceu."

(Legião Estrangeira - Clarice Lispector)

~

Ele morreu na minha mão,
mas eu amei.
Amei tanto, quis tanto,
que matei.
Matei por amor?
Um dia a gente esquece?
Algo em mim eu sei que fugiu.
Está escondido, arrependido, e não vai esquecer.
Algo em mim só existe porque não vai esquecer.

A uma distância infinita eu via o passarinho.
A uma distância finita eu ouvia meu coração bater,
quase que parando...
A uma distância finita eu via a morte.
Tão finita que a morte estava nas minhas mãos, e não mais o passarinho.

Eu me assusto.
Não devia poder matar de tanto amor.

Eu estou cansada e... o passarinho é que não volta e não cresce.
Estagnou-se num corpo pequeno, duro, frio e sem possibilidade de amar.

Criou-se algo em mim que só existe porque não esquece dele.
Criou-se algo.

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